Anos mais tarde, outra teoria chamou atenção para o fato de que o jornalista tem o poder de decidir o que é notícia, utilizando, para isso, seus próprios critérios subjetivos – a Teoria do Gatekeeper. Não demorou muito até que novos pensadores a questionassem e sugerissem um contraponto, baseado no fato de que jornalistas trabalham para empresas e, portanto, as notícias se equiparam a produtos. Nessa teoria – chamada de Organizacional –, o jornalista precisa se sujeitar à política editorial da empresa para a qual trabalha, seja ela qual for.
Já nos anos 1970, outra proposta ganha força, a Teoria do Agendamento, ou Agenda Setting. Seu ponto central é o fato de o público considerar os assuntos veiculados na mídia como os mais importantes. Assim, os meios de comunicação são os responsáveis por propor temas sobre os quais a população vai falar naquele momento, auxiliando na criação da realidade social.
Entre outras teorias desenvolvidas ao longo dos anos, talvez a mais atual seja a do Newsmaking. Ela propõe uma rotina industrial para a produção das notícias, que passam por vários profissionais – pauteiros, repórteres, redatores, editores, diretores etc. – antes de chegar ao público. Nesse contexto, o jornalista não detém o poder individual de decidir o que é notícia, nem está subjugado aos mandos e desmandos de sua empresa. A notícia, como produto final, é o resultado de uma negociação entre vários, que são guiados por critérios definidos de noticiabilidade (por exemplo: grau e nível hierárquico dos envolvidos, impacto sobre a nação, proximidade do acontecimento, feitos excepcionais, entre muitos outros).
Como vimos, as teorias são várias, e muitas outras vão surgindo à medida que o mundo se transforma. Exemplo disso são os veículos que, atualmente, costumam se pautar pelas redes sociais. Sabemos que, nesses espaços virtuais, as pessoas se relacionam a partir de seus interesses ou valores em comum. O problema é que os interesses e valores de um determinado grupo nem sempre representam a opinião da maioria e, portanto, não necessariamente obedecem aos critérios de noticiabilidade.
Uma manchete que diz “Internautas ‘cancelam’ o ator Fulano de Tal” é um exemplo. Para se ter uma ideia, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 82,7% dos domicílios brasileiros possuem acesso à internet. Isso sem falar nos smartphones! Será que todas essas pessoas compartilham a mesma opinião – no caso, o “cancelamento” do ator em questão? Muito provavelmente não. Algumas delas sequer devem conhecê-lo!
É por essas e outras que você, leitor, deve estar atento àquilo que lê. Nem sempre a notícia é um reflexo da realidade. Em tempos de fake news, já ficou mais do que claro que é preciso ser um tanto desconfiado, especialmente quando se trata de internet.
Por isso, busque fontes confiáveis, pesquise outros dados, não compartilhe aquilo de que você não tem certeza. Afinal, seja qual for a função do jornalista, para que haja comunicação efetiva, é preciso mais do que um receptor passivo. É preciso saber interpretar o conteúdo recebido antes de torná-lo parte da sua realidade social.
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