Uma anônima, que se dividia entre os estudos para concursos públicos na área de Direito e a maquiagem profissional, entrou no Big Brother Brasil em fevereiro com 3 mil seguidores no Instagram e saiu do programa, agora com quase 30 milhões. Seu engajamento, atualmente, só perde para o de Kylie Jenner e Cristiano Ronaldo. Como explicar esse boom estratosférico e repentino de Juliette Freire, considerando que o programa já está em sua 21º edição?

Em seu anúncio de campeã, as palavras “resiliência”, “bondade” e “verdade” prevaleceram. E acreditamos que sejam elas que comecem a explicar o porquê dela ter se tornado, em tão pouco tempo, um produto multimilionário para marcas e outros artistas, que já se mostraram interessados em parcerias.

O universo dos digitais influencers é repleto de publis de hotéis, restaurantes e salões de beleza. Também há muita ostentação de grifes de luxo, vinhos caríssimos, além de poses em paisagens paradisíacas. A linguagem deles costuma trazer muitos bordões e é quase uma regra mostrar aos seguidores aquela felicidade que dura 24/7. Esse é um modelo que dá certo? Sim, pra muita gente. Mas será que as coisas estão mudando? Outra pergunta bastante pertinente: esse lifestyle também combina com o momento que 99% dos brasileiros está passando durante a pandemia?

Juliette entrou na casa mais vigiada do Brasil falando de suas cicatrizes. Aliás, ela falou muito sobre isso no programa. Algo que eu, você e qualquer pessoa também lida todos os dias. Nas primeiras semanas de confinamento, seu jeito não foi compreendido pelos demais participantes, situação que a maioria de nós já passou na vida. Era ela tentando falar e ninguém acreditando ou sequer disposto a ouvir.

A participante, então, para se manter no jogo, resgatou sua força interna por meio de suas raízes. Cantou lindas músicas brasileiras que muitos de nós não conhecíamos, exaltou a força de sua família, declarou seu amor pela mãe que é semi-analfabeta e precisou trabalhar desde os oito anos de idade, compartilhou dicas de maquiagem e falou abertamente sobre o preconceito sofrido pelo povo do Nordeste. Paraibana, constantemente ela enaltecia seu estado, enquanto seus concorrentes, por vezes, debochavam de seu sotaque pelas costas.

Um ser humano de verdade diante de nossos olhos. De certa forma, Juliette fez com que o povo brasileiro, que lida com notícias avassaladoras de mortes pela Covid-19 todos os dias, resgatasse o amor pelas belezas desse país.

Essa identificação é a prova também de que muito mais do que belas fotos e corpos considerados perfeitos, carecemos de “gente como a gente”. Que sofre, que tem feridas, que erra, que não é aceita por todos de cara, mas que acredita tanto em si e nos valores que aprendeu pela vida, que é capaz de sorrir e brilhar. Quer influencer maior do que uma pessoa que nos faz lembrar de nós mesmos?

2021-05-13T14:36:54-03:00

Deixar um comentário